terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amora Doce...


A luva de protecção rompeu-se
Consumida pelo tempo
Nos espinhos ressequidos pelo pó
Deixando-me os dedos nus
Abri e fechei a boca em silêncio
Moveram-se os lábios
Ecoando um fino grito mudo
Piquei-me nos silvados
Distúrbios alimentam a dor
Sangraram erros
Gotejaram saudades
Sílabas manchadas
Falsas gotas de orvalho
Acre o silêncio
Sabia a amoras silvestres
Amoras amargas
Ainda verdes

Nas sebes do abismo
Cresceram ramadas de silvas
Onde já não brotavam amoras doces
No abstracto sulco silvestre
Na brandura do entardecer
Emanavam agora fragrâncias frescas
Do bosque da liberdade
Percorro os baldios fertilizados
Mordo os suspiros de nostalgia
Pego no cabaz de coloridos desbotados
Cesta já gasta de palavras entrelaças
Sigo as fragrâncias bravias
Inebriando-me o pensar

Descuidada mente encantada
Ignoro as silvas crescidas
Encaminho-me no apelo reluzente
Desprendem-se vontades serôdias
Às amoras rubras como poemas
São aglomerados de sílabas
De bolinhas vermelhas
Como amoras maduras

Bagas impacientemente desejadas
Que a demora levianamente amadureceu
Esperam as mãos errantes
Numa colheita delicada
Ameaçam cair no acolchoado
Chão de saudades cristalinas
Colho com ambas as mãos
As amoras doces
Que devoro sofregamente
Lambuzo-me com as lembranças
Sabores de outros tempos
Melodia para os meus ouvidos
Vem, vem sentir o sabor
A Doce amora…


(fotos,olhares.com)

7 comentários:

  1. Lindo o teu poema

    Até te podes lambuzar com as lembranças,mas não te esqueças que o passado esta lá atrás, e é hoje que deves de desbravar as silvas, porque vais encontra terra fértil que pode ser cultivada e podes plantar muitas árvores e criar um paraíso, as silvas romperam as luvas as mãos sangraram, é o sangue da vida por ele deves sempre lutar
    beijinhos ternos

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  2. *
    sublime post
    adorei as fotos das amoras !
    ,
    deixo-te um cheirinho
    deste rectângulo,
    ,
    AS AMORAS
    O meu país sabe a amoras bravas
    no verão.
    Ninguém ignora que não é grande,
    nem inteligente, nem elegante o meu país,
    mas tem esta voz doce
    de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
    Raramente falei do meu país, talvez
    nem goste dele, mas quando um amigo
    me traz amoras bravas
    os seus muros parecem-me brancos,
    reparo que também no meu país o céu é azul.
    ,
    In-Eugénio de Andrade,
    ,
    conchinhas, deixo,
    ,
    *

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  3. Lindissimo poema...pode-se entrar nele...adorei o cheiro a campo, em belas palavras.

    Beijinho
    Sonhadora

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  4. Delícia.
    FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... deseja um bom dia.
    Saudações Florestais !

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  5. Lindo o teu poema!
    Fez-me recordar o tempo da infância e os sulcos rasgados ne pele pelas silvas, na ânsia de colher amoras!...

    Beijos...
    AL

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  6. Sublime poesia.

    Amoras bravas....
    Vou assobiando pela estrada fora...
    Vou colher amoras e pintar os lábios...
    Descalço vou, mas nem me importa
    Colho o fruto vermelho, que que faz lembrar a infância e traz a saudade desse tempo.

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  7. Luvas de protecção quem as não tem? Quando se rompem há que substituí-las e, então mais precavidos, saborearemos ainda mais intensamente, os aromas e os sabores dos frutos que nos são ofertados pela vida
    Abracinho

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