domingo, 31 de outubro de 2010

Se estou bem?


Se estou bem?

Se não sentisse,
O peso do mundo nos meus ombros nus...
Estaria bem!
Se não sentisse,
O frio da minha inexistência...
Estaria bem!
Se não sentisse,
Que me afogo nas lágrimas que choro...
Estaria bem!
Se não sentisse,
Que me apago a cada instante...
Estaria bem!
Se não sentisse,
Que a negridão da noite continua quando amanhece o dia...
Estaria bem!
Se não sentisse,
Se não sentisse sim!
Acho que se simplesmente não sentisse....
Estaria bem!



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ela chegou primeiro...

Ela chegou primeiro
Ao lugar onde tudo acontece
E nada se passa…
E nada se sente…
Ou se sente sem sentir…
São amantes platónicos…
Inventam carícias de papel…
Trocam beijos de palavras…
Voam nas asas dos sonhos…
Atingem o céu sem tirar os pés do chão…
O seu ninho de amor feito de redes
Balouça nos arredores do universo
Preso fragilmente em duas árvores distantes…
Sacudidas bruscamente
Com uma rajada de vento desnorteado
Acorda para a realidade…
Regressa do lugar onde nunca esteve
O lugar secreto onde chegou primeiro…
E traz nas pálpebras as recordações...
No corpo as lembranças...
Na alma as memórias...
Que não caberiam nas mãos...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Quando o céu é mar...

Quando o céu é mar!

Desde quando o céu é mar?
Desde quando o mar é lembrança!
Desde quando a maresia é quimera!
Desde quando as ondas são ausência
Desde quando as dunas são mente deserta!
Desde quando o murmúrio é semeado de serranias!

Desde quando não tenho o mar por companhia…

Nas montanhas desenhei o mar
Olhando para o céu
Da mesma cor
O idêntico ondular
E parecidas com a branca espuma
As nuvens brancas
Que passam apressadas
Arrastando atrás de si os sonhos
O mar inventado de quem não o têm
Sem murmúrio
Sem maresia
E á tardinha
Em vez do pôr-do-sol
Tenho a lua por companhia

E sei que na longínqua vontade
Nos confins do querer…
Algures o meu céu encontra o mar…
Esse que não é meu…
Apenas mar…

domingo, 17 de outubro de 2010

A última folha...

No lugar da árvore sã
Agora apenas o tronco
De um madeiro mirrado
Hibernando no tempo
Suspenso por uma folha
A última…
Árvore murcha
Hirta e silenciosa
Completamente à mercê dos ventos
O brilho aparente foi na seiva escorrida
A fluir num rio de ouro seco
Estenderam-se no tempo raízes duplas
A sombra é agora uma concha de trevas
Do mais genuíno breu
Pendem das hastes vestidas de secretos musgos
Recortes de passados
Suspensos por uma folha…
A última…



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Plano B...


Encontrei um plano B quase perfeito…
Onde repouso a mente e o corpo cansado…
Consumida de batalhas perdidas…
Apreciando o fim da luta…
Onde as regras são seguir em frente…
Mesmo que vente forte a adversidade…
Em rajadas de descontentamento…
E contra o vento…
Eis senão quando tudo parecia perdido…
Encontrei um plano B quase perfeito…
Onde consigo a cumplicidade do céu melódico…
Bandos de gaivotas voam sobre o azul do lago…
Assim deixo voar a caneta sob a cândida folha…
Mergulho o pensamento na cristalina e gelada água…
Um pássaro desenha no ar a canção…
Fixo um ponto invisível diante de mim…
Sincronizo corpo e mente…
E no alvoroço abstraio-me da falta de sinceridade de certas pessoas que me provoca náusea…
Arredo-me para longe sem sair dali…
Na contradição a verdade ganha força…
O universo continua a pôr-me á prova…
E ouço o meu EU como uma prece…
Num grito que me rasga o ventre…
Costuro o golpe com palavras que calo a fio…
E sorrio…
Porque descobri afinal que existia tão perto (dentro?) de mim…
Um plano B (quase perfeito) que desconhecia…

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Voou-me do ninho...

Voou-me do ninho…
Um pássaro que não era meu…
Acolhi-o com amor de mãe…
Ensinei-o com afecto…
Acarinhei-o com palavras…
Alimentei-o de amor…

(Sei lá porque choco com carinho…
Os ovos que não são meus…)

Qualquer ninho tem defeito…
E nos nichos perfeitos…
Fluem etéreos os sentimentos…
Abafados por valores supérfluos…
Cifrões como aves de rapina…
Números mortíferos como armas…
Em tempo de caça…
Afinamos um (último) abraço…
Apertadinho…
Que sabes de cor já…
Amparei-te as quedas com minha mão…
Ensinei-te a voar…
Impulsionei-te o voo
E vi-te partir…

Arrancarem-te de meu ninho…
Foi cortarem-me as asas…a sangue frio…
O meu coração é agora uma gaiola vazia…