segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

EU_Simplesmente...


Desejo a todos/as que me lêem..
Um
Feliz Natal
E
Bom Ano 2011
...............................................................................................

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Noite e dia...

Nessa noite, não existia brilho…
Porque o manto imenso, apertado e branco que cobria a escuridão, não deixava acariciar com o olhar as estrelas… o céu vertia flocos cor de algodão…
E o ruído reluzente nos telhados de zinco era longo demais…
Não são namoros de gatos, em luares de Janeiros…
É o estrondo do silêncio!
Num silêncio esbelto!
Só silêncio!
A figura obscura do outro lado de lá…
Esbate no portão que adormece fechado…
Encantado pelas ondas de silêncio…
Saindo de mão dada com a amante fantasia…
Por entre as frinchas do portão que nem fechado tranca a imaginação…



Esconde-se na esquina de mais um dia, a noite!
Nas sombras de um céu aberto…
Vestido de gala vem o dia…
Comungando hóstias de faz-de-conta…
Beatas!
As ruas…
Traiçoeiras!
Armadilhadas de beleza…
Onde tropeçam os meus pensamentos…
Nas palavras congeladas dentro de mim…
Resvalando em labirintos de poesia…
Noite e dia…
(Fotos e Palavras FlorAlpina)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ecoa um nome...

Ecoa um nome...

Soletrado com a boca trémula dos dedos…
Ao ouvido surdo da pele…
Num grito de carícias…
Conquistando cada centímetro de folha branca…
Devagar…
Os lábios decifram o silêncio…
Momentos sincronizados…
Dos (a)braços…
Rascunhos ténues…recuperados…
Protegidos num punhado de sentimentos…

Comparados às notas ofegantes de uma canção
Entoam ao universo a poesia intrínseca de um nome…
Trespassando de silêncio…
Melodias…
Acordando desejos remotos…
Simetria de sombras num deserto de olhares…
O vento sopra vontades…
E numa rajada de saudade…
Ecoa um nome…
Fazendo ricochete no rochedo do tempo…

Texto FlorAlpina

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Sol amanhece azul...


Acende-se o candelabro de mais um dia...
O sol amanhece azul...
Vestido de branco...
Desinfectando as entranhas da escuridão…
O vento tenta arrancar as retinas fixas, algures no horizonte...
O poeta crê nas imagens audíveis…
Ignora o silêncio recluso que traz preso a si como grilhões de insónias que arrasta madrugada dentro…
Alimentando com uma côdea seca de esperança, a força eremita que habita para lá do sol-posto…
À revelia de crenças questionáveis dos sábios…bebe os momentos que vagueiam na mente, numa sede insaciável de anseios intocáveis…
Antes que o pensamento insano derreta a beleza…
As sombras odaliscas do tempo sacodem-se na dança do ventre às nuvens esbranquiçadas…
Enfeitando o céu branco/anil com jóias de faz-de-conta, num gesto de afago intemporal…
O poeta crê nas imagens audíveis que lhes sussurram aos olhos as gotas raras de felicidade…
Saboreia o ar rarefeito antes que o rastilho de dúvidas se incendeie, e o barril de problemas ecluda dentro de si…
Escorrega na realidade, deixa cair os olhos ao chão, desvia-se deles para não os pisar e deixa tudo como está…

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Anel de frio...


O frio sopra na brancura…
De um quadro nocturno…
Oferecendo aparências que se colam ao vazio…
Afagando com um manto branco, a noite…
Rendilhadas pérolas a cintilar…
Dissipam-se na gélida cumplicidade…
Doando-se à beleza do olhar…
Fazem-me estremecer num arrepio…
Carícias abstractas apoderam-se do corpo…
Abraçando-me…
E sinto em torno de mim…
O brilho falso…
De um apertado anel de frio...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

1 Ano depois...

Começo por pedir desculpas a quem entretanto me prendou com mimos selos e prémios, e eu por motivos pessoais que me levaram a estar um pouco mais ausente da blogosfera, não os pode agradecer convenientemente e ou coloca-los aqui! Espero que não se sintam menos queridos por mim…mas a vida real às vezes de tão madrasta que é, obriga-nos a desligar de muitas coisas que nos dão prazer, como dar continuidade a projectos, a sonhos... ou simplesmente visitar os blogues das pessoas que carinhosamente me seguem e das quais tenho sentido um carinho inexplicável. Uma força que mesmo virtual me impulsiona a seguir em frente!
Sinto nas palavras amáveis com que comentam os meus rascunhos (desabafos) e tão afectuosamente chamam de poemas uma energia que me revigora de cada vez que os leio!
Algumas pessoas eu posso retribuir, passando nas vossas casas virtuais e enriquecendo-me pessoalmente com as vossas vivências as vossas poesias as vossas obras de diferentes artes, ou “viajando” com vocês, já no regresso das vossas viagens de sonho, quando partilham connosco tão belos lugares!
Há ainda outras pessoas não menos especiais (presumo) que comentam e eu não tenho como agradecer, por serem anónimos…
Existem outros/as que eu sei que me lêem, visitam o meu cantinho mas por falta de argumentos ou coragem não deixam “rasto”…
Respeito todos por igual e agradeço, porque realmente sem vocês todos não fazia tanto sentido continuar!

E a minha montanha seria então um deserto…

1 Ano depois…
71 Seguidores!
1 Ano depois…
153 Textos
1 Ano depois…
1222 Comentários!
1 Ano depois…
3195 Visitas (+/-)

Há um ano atrás nascia assim um blogue!
Aqui onde eu...me (des)encontro...

Aqui onde o tempo não pára…
Aqui onde o sol não brilha…
Aqui onde não ouço o mar…
Aqui onde as árvores já estão nuas…
Aqui onde a macabra mentira vence…
Aqui onde o certo se confunde com o errado…
Aqui onde não é livre a liberdade...
Mas…


Mas...
É aqui que existe um espelho ébrio…
E me diz que sou mutável como a lua…
E que eu não sou eu afinal…
Não sou esta que o espelho mostra…
Essa é a outra, cobarde e intrusa…
Que me esconde atrás dela…
Irrompem de seus lábios trémulos…
Palavras minhas…
Que escondem por medo, sentimentos dormentes…

sábado, 27 de novembro de 2010

Só...as palavras voam...


Palavras!
Palavras, palavras...

Poesia!
(Poesia?)

Nem me prendes...
Nem me dás asas...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Parabéns...a...mim!...Mergulhando em mais um ano...


Para mais um tempo de cera endurecendo ao frio/calor dos anos
Aniversário é data a esquecer
Razões são velas que o escuro acende
Amizade é presente que não quero embrulhado!
Bajulices descartáveis…beijos abraços e palmadas tortas nas costas
É impossível parar o tempo! Queria tanto descer…
Números redondos
Suspensos por uma data…

Amanhã apenas o ontem do dia seguinte…

Meu corpo entorpecido
Iniciando
Mais uma viagem relâmpago…apenas mais um ano!


***************************************


No confortável silêncio ensurdecedor, local onde habita desde que decidiu mudar de planeta…
Escutava a linguagem da montanha, num eco desafinado, encaminhando em avalanches de palavras desalinhadas os sentimentos amontoados que transbordavam do peito…
Reflectindo-se vaidoso o céu, no azul estonteante do lago, um espelho grande como o firmamento, onde no horizonte o amanhecer moldava nuvens para lhes dar de presente, em tons de chuva miudinha como poesia avulso…
Passeava-se mulher, sonhava-se poetisa nas searas imensas do nada que o seu olhar alcança…e era tanto afinal!
Ouvia a voz da saudade ao longe, numa brisa doce, que ainda noutra rajada lhes fez lembrar as amargas primaveras das flores que murcharam antes de florir, sem nunca lhes saber a cor…
E na inocência da criança que nunca deixou de ser, acredita que desta vez é que o sonho a adormecerá na realidade…mesmo sabendo ainda e melhor que ninguém que veste a pele que não lhes cabe no fato…
Assoprará mais um pavio dessa vela de pedra, á sombra de mais um desejo corrigido não concretizado disperso algures debaixo do tapete de mais um ano que passou...
A paz aflita nos dias de risos ondulantes de datas perfeitas porvir…rascunhos nas ondas de um mar revolto…reflexões…ou se arrastam até hoje os projectos de espuma…entalados nas reticências das palavras que cala…
Hoje queria ser transparente…abraçar o fumo da vela que não quer apagar, diluir-se em insignificância… sim, transparente…muito mais que invisível…porque invisível, já ela o é todos os outros dias…
Contam as cinzas que se dispersaram no tempo…têm-nas ali agora…em sua mão fechada…
Acende reunidas as canículas em gélidas candeias que quer guardar com um sopro de satisfação, como forma de agradecimento ao fado que a vida não lhes ensinou a escrever… mas apenas a aceitar…a letra sua de cada dia…e hoje é mais um ano, em que mergulha lentamente!


sábado, 20 de novembro de 2010

(Re)Vivo momentos...

(Re)Vivo momentos
Recordando...


Espantoso desabrochar
Num brutal acesso de vontade de viver
Abrem-se diante de mim os botões enrolados
E na goma transparente surgem as pontas verdes
Suspendo a imagem na retina
Frágil equilíbrio
Rasgado pelo som dos sinos anunciando que é hora de acordar dos sonhos e regressar.
Lá ao fundo na quietude das águas dormentes
Cardumes de trutas ensaiam o baile da vida e fogem á cobiçosa cana de pesca
E eu guardo o cheiro fresco e novo de mais um dia a contemplar a magia da vida!
Nestes momentos que roubo á solidão…

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sinais (Des)Encontrados...Nos caminhos que percorro...

Confundem-se os caminhos...
Nos caminhos (des) encontrados
O tempo passa, e trocam-se-me os passos
Se procuro saídas…
Teimam as pegadas colar-se aos pés
Ouvem-se os ecos dos passos passados
Rangendo…
A inspirar sequências impressas abandonadas…
Propositadamente em palavras desmedidas…
Possíveis caminhos se atalham no declive…
Serpenteando desafios…
Onde tropeço nas ramagens do próprio chão…
Porque os olhos abraçam o instinto que se abre no cenário
Como uma porta em forma de coração…
E quando procuro caminhos pelos quais seguir
Apenas encontro veredas solitárias…
Imaginárias…gastas...
De outras caminhadas…
Armadilhas de meus passos perdidos
Incontáveis…contidos…
Rastos…sem rosto…
Estranhos indícios nas cores naturais…
Caminhante sem caminho…
Nas clareiras dos bosques sem trilhos…
Ou nos trilhos dos bosques sem clareiras…
Numa dança silenciosa de passos afinados
Onde sinto o chão que piso…
Fugir-me debaixo dos pés…
Seguro-me no tremor dos passos alados…
Sou o ser que recua quando o caminho avança…
Procurando encontrar um sentido, nos passos sem sentido
A única certeza é que até a natureza me confunde os caminhos
Desenhando nos mapas símbolos conhecidos
Sinais (des)encontrados em caminhos que percorro…




terça-feira, 9 de novembro de 2010

Como um navio errante...(Preso no cais...)


Soltava as amarras do porto de abrigo…
Segurando firme na alma o frágil leme…
E a bússola desorientada …
Sede de viver o mapa do tesouro perdido…
Transformando em hinos de quietude …
As vagas descontroladas do coração agitado…
Galgando a razão rumo ao infinito dos sentimentos…
Nas distantes ilhas de fantasias por descobrir…
E navegava á deriva por oceanos de sonhos…
Frágil corpo…
Perdido…
Como um navio errante que penetrava a imensidão dos desejos…
Entontecia de ansiedade…
Nas vertigens sóbrias de vontades…
Jurava que ouvia!
Jurava que via!
Felicidade Sereia que nunca vinha…
Que não existia talvez…
Mas que nessas horas de solidão…
Lhes fazia bem sonhar que algures…
No oceano, naquele mar esquecido…
Um belo ser aparecia para superar os momentos de clausura…
Estranha sensação de liberdade que aprisionava…
Um horizonte sem obstáculos…
Só o céu e o mar…
E nas entranhas de si…o vazio!

Que o encha o vento norte…que sopre!
Rasgando as marés o navio…seu corpo!

Embalada a mente por uma brisa agridoce de saudade…
Ao longe algumas estrelas no entardecer da existência…
Uma bola de fogo chamada realidade…
Existia!
Tão longe que não a conseguia alcançar…
Sabia apenas que estava lá…
Podia olhar no horizonte imenso…
Era essa a única liberdade…
Mas não se podia movimentar para além daquela casa flutuante, apertado navio….
Navio corpo que aprisionava a lucidez…
Sensação paradoxal tinha tanto de bom como de mau…
De maravilhoso como de enfadonho…
Como o canto da Sereia Felicidade que nunca vinha…
Navega…
Navega á deriva…
Como um navio errante…
(Preso no cais...)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um sorriso...


Tem um sorriso ...
Um sorriso postiço!
Um sorriso rasgado...
E colorido!
Que coloca por cima do rosto...
Um rosto cansado!
Opaco e gasto...
Dizem as pessoas:
_ É bonito!
Ficam-lhe bem as cores, são mesmo á medida!
Mal elas sabem...
É daltónica,
Não decifra as cores...
E o sorriso, de tanto que a aperta,
Já faz calos no coração...

domingo, 31 de outubro de 2010

Se estou bem?


Se estou bem?

Se não sentisse,
O peso do mundo nos meus ombros nus...
Estaria bem!
Se não sentisse,
O frio da minha inexistência...
Estaria bem!
Se não sentisse,
Que me afogo nas lágrimas que choro...
Estaria bem!
Se não sentisse,
Que me apago a cada instante...
Estaria bem!
Se não sentisse,
Que a negridão da noite continua quando amanhece o dia...
Estaria bem!
Se não sentisse,
Se não sentisse sim!
Acho que se simplesmente não sentisse....
Estaria bem!



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ela chegou primeiro...

Ela chegou primeiro
Ao lugar onde tudo acontece
E nada se passa…
E nada se sente…
Ou se sente sem sentir…
São amantes platónicos…
Inventam carícias de papel…
Trocam beijos de palavras…
Voam nas asas dos sonhos…
Atingem o céu sem tirar os pés do chão…
O seu ninho de amor feito de redes
Balouça nos arredores do universo
Preso fragilmente em duas árvores distantes…
Sacudidas bruscamente
Com uma rajada de vento desnorteado
Acorda para a realidade…
Regressa do lugar onde nunca esteve
O lugar secreto onde chegou primeiro…
E traz nas pálpebras as recordações...
No corpo as lembranças...
Na alma as memórias...
Que não caberiam nas mãos...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Quando o céu é mar...

Quando o céu é mar!

Desde quando o céu é mar?
Desde quando o mar é lembrança!
Desde quando a maresia é quimera!
Desde quando as ondas são ausência
Desde quando as dunas são mente deserta!
Desde quando o murmúrio é semeado de serranias!

Desde quando não tenho o mar por companhia…

Nas montanhas desenhei o mar
Olhando para o céu
Da mesma cor
O idêntico ondular
E parecidas com a branca espuma
As nuvens brancas
Que passam apressadas
Arrastando atrás de si os sonhos
O mar inventado de quem não o têm
Sem murmúrio
Sem maresia
E á tardinha
Em vez do pôr-do-sol
Tenho a lua por companhia

E sei que na longínqua vontade
Nos confins do querer…
Algures o meu céu encontra o mar…
Esse que não é meu…
Apenas mar…

domingo, 17 de outubro de 2010

A última folha...

No lugar da árvore sã
Agora apenas o tronco
De um madeiro mirrado
Hibernando no tempo
Suspenso por uma folha
A última…
Árvore murcha
Hirta e silenciosa
Completamente à mercê dos ventos
O brilho aparente foi na seiva escorrida
A fluir num rio de ouro seco
Estenderam-se no tempo raízes duplas
A sombra é agora uma concha de trevas
Do mais genuíno breu
Pendem das hastes vestidas de secretos musgos
Recortes de passados
Suspensos por uma folha…
A última…



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Plano B...


Encontrei um plano B quase perfeito…
Onde repouso a mente e o corpo cansado…
Consumida de batalhas perdidas…
Apreciando o fim da luta…
Onde as regras são seguir em frente…
Mesmo que vente forte a adversidade…
Em rajadas de descontentamento…
E contra o vento…
Eis senão quando tudo parecia perdido…
Encontrei um plano B quase perfeito…
Onde consigo a cumplicidade do céu melódico…
Bandos de gaivotas voam sobre o azul do lago…
Assim deixo voar a caneta sob a cândida folha…
Mergulho o pensamento na cristalina e gelada água…
Um pássaro desenha no ar a canção…
Fixo um ponto invisível diante de mim…
Sincronizo corpo e mente…
E no alvoroço abstraio-me da falta de sinceridade de certas pessoas que me provoca náusea…
Arredo-me para longe sem sair dali…
Na contradição a verdade ganha força…
O universo continua a pôr-me á prova…
E ouço o meu EU como uma prece…
Num grito que me rasga o ventre…
Costuro o golpe com palavras que calo a fio…
E sorrio…
Porque descobri afinal que existia tão perto (dentro?) de mim…
Um plano B (quase perfeito) que desconhecia…

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Voou-me do ninho...

Voou-me do ninho…
Um pássaro que não era meu…
Acolhi-o com amor de mãe…
Ensinei-o com afecto…
Acarinhei-o com palavras…
Alimentei-o de amor…

(Sei lá porque choco com carinho…
Os ovos que não são meus…)

Qualquer ninho tem defeito…
E nos nichos perfeitos…
Fluem etéreos os sentimentos…
Abafados por valores supérfluos…
Cifrões como aves de rapina…
Números mortíferos como armas…
Em tempo de caça…
Afinamos um (último) abraço…
Apertadinho…
Que sabes de cor já…
Amparei-te as quedas com minha mão…
Ensinei-te a voar…
Impulsionei-te o voo
E vi-te partir…

Arrancarem-te de meu ninho…
Foi cortarem-me as asas…a sangue frio…
O meu coração é agora uma gaiola vazia…








quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sinto nos dedos...


Despega-se mansamente
O cheiro a praia que trazia em mim
O sol tatuado a sal descora no castigo dos dias
Cai-me aos pedaços dos olhos o resto de maresia
Derrama-se sobre mim a bruma de saudade
Desfraldo os escassos sentimentos que pesquei
Nas ondas espalhadas do meu corpo
Grito às marés os silêncios no voo das gaivotas
Arrasto uma das minhas penas
Mergulho-a na maré negra
E desenho as amarras invisíveis que quero cortar…
Nesse porto (in)seguro
Nas dunas triaçoeiras onde cantam sereias
Longe do cais de abrigo um farol apagado
Em noite de tempestade
Onde o vento é aconchego dos pensamentos
Sinto nos dedos o sabor do mar
sinto nos dedos o pulsar das torrentes
Sinto nos dedos as marés vazias
De palavras que não me cabem na praia deserta

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Metade de mim...


Metade de mim não quer ser
O que a outra metade é…
Metade de mim é luz
Metade de mim cristalina escuridão…
Metade de mim é mar
A outra metade sinuosa montanha…
Metade de mim é existência
Metade de mim genuína solidão...
Metade de mim é voo
Mais de metade de mim é queda no abismo...
Metade de mim adormece
Enquanto a outra metade desperta…
Metade de mim orgulha-se
A outra metade (in) feliz despreza-me…
Metade de mim cala-se
Quando a outra metade se zanga…
Mais de metade de mim zanga-se
Quando a outra metade covarde se cala…
Metade de mim é silêncio
Metade de mim alvoroço…
Metade de mim eu entendo
E não entendo porque não entendo a outra metade…
Metade de mim está deprimida
Por ver que a outra metade se acomoda…
Metade de mim denuncia,
O que a outra metade renuncia…
Metade de mim crítica
O que a outra metade aceita...
Metade de mim é calor
Metade de mim arrepios...
Não sei qual das duas metades escreveu este texto
Que deixou pela metade…
Metade de mim quer apagar
A outra metade diz simplesmente que não…


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sempre que chega Outono...

Esvoaçam…
Os poemas…
Como folhas de Outono…
Perdidas…
Caducas…
Cansadas…
Como sentimentos…
Sem sentimentos as folhas…
Comparáveis a criaturas que conheço…
Desalentadas…
Sempre que chega Outono…

Amareladas…
Repousam no chão…
As folhas…
Mas o poema não…
Vagueia ainda embalado…
Pairando na mente…
Respirando o ar rarefeito…
No lugar onde mora o vazio…
Sempre que chega Outono…

O pulsar das lágrimas de um verão findo…
Tragadas pela melancolia
O frio dourado a brilhar astuto e penetrante…
Trespassa os corpos…
Abafando as explosões…
Capazes de fracturar o (meu) universo
Sempre que chega Outono…


Observo o verão a apagar-se num lampejo…
Espraiando-se…
Nas cores de Outono que se demoram cada vez mais…
O amor dourado arrefece num pôr-do-sol…
O vento exibisse por entre a nudez das árvores…
Esconde-se por trás de uma hastezinha dourada
Espreita com malícia a agitação das bailarinas…
As folhas…
Enquanto ensaiam a sensual dança cadente…
Abandonando-se no aconchego…
De um chão atapetado…
Recortado de tardes soalheiras…
Sempre que chega Outono…





sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sonha(se) Sereia...

(imagem da internet)

Imagina-se sereia…
A montanha…
Num sopro de vento norte…
Contempla os espelhos baços…
Salpicados de águas turbulentas…
Entre gotas de suor corpos salgados…
Engole o silêncio prisioneiro do seu grito
Desvia o voo errante das gaivotas
(Ou o seu próprio voo rasante?)
Afasta a cortina de maresia…
Com raios de penas…
Marulhado o sol tinge sussurros…
Faina de desejos esvoaçantes…
Ladeada nas redes pedaço de montanha…

Sonha(se) sereia…

Estende o lençol branco de espuma onde se inventa…
Enquanto o mar másculo lhes mostra todo o seu vigor…
No vaivém das ondas deslizam sobre seu corpo nu carícias…
O mar…esse possuía-a sem rodeios nas investidas das vagas…
Ávida…recebia-o dentro de si sem pudor
Sacode o corpo impregnado de beijos e sargaços
Pede ao pôr-do-sol segredo…
Arrepios de prazer dispersos pela brisa que as dunas abafam…
Reúne os gemidos espalhados no areal de imprudência escaldante…
Imagens reflectidas no fado azul dos oceanos…
Onde amantes náufragos dessa ilha que não existe…
Apagam as marcas desse amor que ainda não nasceu …
Á luz cúmplice das estrelas que se acendem…
No limiar do horizonte…
Sorri a sombra clandestina da lua…
Á montanha…
Adormece numa nuvem de branca espuma…
E sonha(se) sereia...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Fios de memória...


O passado é o baú
Onde arrumei os segredos do tempo
Fios de memória se desatam...
Os erros são correntes enferrujadas
Encarcerando aparências
Afogando-se cristalinamente
Ao ritmo da certeza

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Obrigado! Por existires...


..."_ Obrigado!
_ Obrigado?
_ Sim…por existires em minha vida…”


Palavras morfina amenizando a dor…
Tomo para mim o significado das palavras…
Na dose certa…
Remediando meu lamento…
Com a força de um abraço não dado…
Desencadeando emoções…
Interrompidas…

Quis odiar -te!
Esquecer-te!
Apagar-te!
Vezes sem conta…
Contando as vezes em que iria conseguir…
Juntar as partículas esvoaçantes…
Das palavras desfeitas…
Feitas poeira, ao vento por ti espalhadas…
Procurei no vazio as palavras que disseste…
Amachucadas atordoadas nesse profundo lugar de mim…
Onde as depuseste…
Cravejadas marcas brancas…
Rascunhos em lousas pretas…
Respiravam ainda…
Ao som lânguido de uma vertigem…
Tombando na escuridão…
Resvalavam palavras insanas…
Amarradas ao giz que empunhavas…
Esgaravataste-me na alma…
Tentando sarar as feridas que fizeste sangrar…
Conquistas a esperança espargindo um bálsamo apaziguador…
Num acto de contrição…
Das mais simples, as mais belas palavras que algum dia ouvi…


“Obrigado a ti, por existires em minha vida…”


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Oh, Mar!


Abandonei indescritíveis segredos…
Dentro de garrafas fechadas…
A flutuar mar fora…
Mar?
Que mar?
Mistério…
Nesse vaivém de enigmas…

No limiar desses horizontes indefinidos…
Já não distingo as dunas…
Já não consigo inventar o mar…
Sempre que procuro o mar,
Há uma parte de mim que se perde…
Na rebentação dos sentidos…
O mar levou-me o poder de sonhar…
O farol apagou-se…
A natureza moldou meus passos…
E vejo a realidade a emergir das poças de escuridão…
Que a lua se esqueceu de acender…

Mar inquietamente tranquilo…

Duvido que os oceanos engulam as garrafas…
Iridescentes…
Cheias de mensagens vazias…
E lhes dêem o rumo que pretendo…
As marés sucedem-se na direcção contrária…
Oh, mar!
Os teus silêncios estão na minha praia artificial…
Terás que te agitar para os resgatar…
Possuo agora a fórmula secreta…
(Mas não a sei decifrar…)
Dos sons com que engravidas os búzios…
Com qual tentas originar amores platónicos…


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Setembro...

É Setembro…
E já longe do mar…
Com (des) gosto…
Sinto nos ombros nus, os arrepios de Agosto…
E no peito adivinho o frio de Dezembro...
Contornos sombrios, uma moldura vazia, a do retrato abstracto que ninguém pintou, algemando-me a este fantasma da minha imagem vindoura, onde figuram as lembranças do passado…
Tu, Setembro!
Arlequim vagabundo rasgando no tempo as memórias de água que me serviam de agasalho, e me matavam a sede de um desejo abafado com lençóis de magia nas noites de insónia…
Tu, Setembro!
Galgas as margens da razão, a saudade aperta-me mais que o que eu queria…Abrange as margens curvilíneas deste corpo rio que flui, e desagua lá ao fundo, lá mesmo ao fundo, no meu seio, feito mar sem fim...
Vagueiam nas orlas do esquecimento, as sombras esculpidas ao luar de ninguém, dos esqueletos acorrentados na pequenez dos grandes sonhos…
Traços imperceptíveis desenham a dor escorregadia com fios de lodo arrancados de mim, de meu peito, leito, com o teu semblante desajustado, Setembro arrogante, anestesiando-me só com o som simétrico do vento norte…
Cruzam-se no horizonte as carícias de ontem tocando os céus e guardo-as sem veres na mão fechada dentro de uma nuvem azul…
Promessas mentiras afectos, dançando na silhueta oblíqua dos pinheiros desencadeando burburinhos aprisionando silêncios…
Tu e eu, Setembro, alinhavando rascunhos, palavras nada mais que palavras, esperando pela vinda acidental de Pégaso que nos levará para além das palavras, destino por nos conduzido com rédeas de sonhos onde diremos depois…
Sim, foste, Setembro!
E eu trazia ainda nos ombros nus os arrepios de Agosto…

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Se...


Se,

a vida é um presente,

Faz cuidado,

ao rasgar o papel de embrulho...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Húmus de lembranças...


O Inverno chegou quando partiste…
Demora-se a chuva nos meus olhos…
Embaciam-se as pétalas dos meus dedos…
Rasgo as cortinas de palavras indizíveis …
Condeno a distância enfurecida…
Entorno os sentimentos cansados…
Serpenteiam-se os medos repetidos…
Silenciados pelo vácuo que me engole…
As palavras encostam-se ao rosto…
Com temor dos trovões que estrondeiam…
Na cratera do meu peito…
Morrem em mim as esperanças por florir…
O sol murcho escorre por entre os dias frios…
Feitos de sombras e folhas secas…
Húmus de lembranças que não decompõe…

sábado, 21 de agosto de 2010

No céu brilha mais uma estrela...




Escrevo palavras que são lamentos
Transportam sentimentos tatuados
Os meus gritos em silêncio
Na procura eterna dos ínfimos porquês
Nas alamedas sombrias da vida…

Escrever é libertar dores?
Nesse caso, não me censurem que a dor não é alheia
Difícil de conter e explicar
Nestes momentos as emoções
São espinhos pungentes a agrilhoarem-me na distância
São amálgamas de coragem deambulando na imortal escuridão
São trajectos impossíveis nas asas da diferença rasgando-me o peito
São mãos amarradas com um cordel lancinante de impotência
Olhos repletos de uma saudade espremida
Que vertem a custo pingos de força…

No silêncio cúmplice da noite partiste…
O vento negro envolto num véu de morte
Sopra de mansinho quando tudo se cala
Empurrando-te para o paraíso
A meia-luz da existência apagou-se
Noventa anos depois
Acende-se no céu mais uma estrela
Transpondo o vazio que perdura
Neste universo onde nada somos…

A partida é um quadro que pinto ainda
Onde a tinta escorre em tons de dor…

Não sabia a forma das letras
Nem o valor do dinheiro
Sabia sim o valor dos afectos que não têm preço…
Sabia ler as horas que passavam devagar…
Reconhecia de memória as silhuetas dos ventos…
A dançarem nos montes…
Dos tempos…A saudade…
O aroma e as cores das estações do ano,
Que lhes escorriam meigamente das mãos calejadas
Por décadas de trabalhos árduos…
De sol a sol nos tempos de miséria…
Via as estrelas do pastor primeiro que todos…
E despedia-se da lua depois de todos…
Hoje no céu brilha mais uma estrela…
A nossa…Que é você…

Guardarei para sempre a expressão delicada do seu rosto magro, cansado
A doçura do olhar, enquanto se desenhava um adeus escrito com lágrimas
A serenidade aceitando um “até breve” que jamais virá…

Eterno descanso…
Á pessoa mais humilde, pura e honesta que eu conheci até hoje…


Ao meu querido sogro!


10.08.1920/19.08.2010


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Retorno...


São de cristal as palavras
Já estilhaçadas…
Fragmentos de dias perdidos
A brilhar na distância percorrida
Abro a janela da alma
E sinto um vazio
Esperei-as
E já partiram…
Trago nas mãos as saudades
Da imensidão do mar
Escolho o silêncio
Para gritar o que sinto
E reconstruir calmamente
Com os fragmentos dos dias perdidos
O abrigo onde me quero guardar
Das palavras de cristal que estilhaçam na mente
Escorrem na face
E pendem no abismo que me suprime o equilíbrio
No retorno aos dias vazios…

quarta-feira, 21 de julho de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

(Im)Preciso...Olhar...


Há grades no teu olhar?
Ou serão os meus olhos que estão presos?
A cor do silêncio tem o teu cheiro…
Arranco as formas das tuas mãos do meu corpo
Que tapam a dor como um véu transparente
Acordam-me os soluços entorpecidos
Dos desejos que trago trancados dentro do meu ser vazio
Seco-me á espera do teu orvalho nas noites sem madrugada
Quero o EU que roubaste naquele instante
Leva de mim as ilusões que deixas-te
Arrancaria as pedras da calçada que nos viram passar
Por não te poder arrancar de mim, e nem te ter…
Beberia as águas do mar,
Por serem menos salgadas que as lágrimas que não posso chorar
Não quero este tempo,!
Quero o instante que dura em mim uma eternidade!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Para si...Professora!


"O significado das coisas não está nas coisas em si, mas sim em nossa atitude com relação a elas."


Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: "Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que colecciona borboletas?" Mas perguntam: "Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?" Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: "Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado..." elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma ideia da casa. É preciso dizer-lhes: "Vi uma casa de seiscentos contos". Então elas exclamam: "Que beleza!"


"Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós; leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo."
Antoine de Saint-Exupéry


Nunca lhes perguntei quem era, quantos irmãos tinha e de onde vinha…
Tudo o que soube, foi sabendo sem perguntar, sabia apenas que era daquelas pessoas que se conhecem devagar…e…
E em períodos controversos para mim, não tive esse tempo nestes últimos 3 anos de a conhecer verdadeiramente…hoje lamento, pois foi sempre adiando o dia em que talvez tivesse um tempinho de conhecer a mulher/mãe que se vestia de professora durante um breve período de tempo para ensinar aos nossos rebentos, o que nós vamos lamentavelmente esquecendo, esse pouco que sabíamos é-nos ultrapassado pelos hábitos incondicionais de uma outra cultura que nos é imposta…
Três anos por cá ensinando a língua de Camões, puxando os seus pupilos para o gosto da leitura, da literatura, sempre rebuscando em nossas memórias e revivendo em festas ainda que pequenas, os jogos tradicionais de um passado tão perto e tão distante…
Por motivos pessoais regressa agora á terra berço do seu/nosso Portugal distante…
Detesto despedidas, por isso não me despeço mas digo até sempre Professora Lurdes…

E foi com este singelo poema que algumas lágrimas de emoção se soltaram…

Para si professora
Que um dia passou por nós
E agora
Falta pouco
Para apanhar lugar nesse tempo de regresso
E voltar á base
Lusitano solo…
Às entranhas dessa terra berço
Que nos castiga a alma de saudade
Nesta agridoce distância…

Quisera eu oferecer um presente intemporal
Mas só as palavras ficam…

Não é um adeus que quero dizer
Mas é nos poemas que digo o que sinto…
Quisera eu,
Desnudar sentimentos como quem sabe o que faz
Mas sou insignificante aprendiz
Que por um momento quis ser poetisa
E do coração de onde brotam palavras sentidas
Fazer arado
E lavrar palavras na folha infértil
Porque só as palavras ficam…
Esvoaçam na mente, soltas
Aquelas palavras de gratidão que queria escrever…
Mas sinto os dedos impotentes, trémulos
Sinto o silêncio das frases que se calam…
E a estrada que devia desaguar no poema
Torna-se subitamente sinuosa…
Não consigo acompanhar
O ritmo deste rio de emoção que quer galgar as margens da razão
E desaguar nos meus olhos
Será assim um poema inacabado
Onde apenas queria dizer-lhe
OBRIGADO!

Professora
Já alguém lhes agradeceu
Por ensinar o que sabe a um filho seu?
Já alguém lhes agradeceu
Por transmitir tudo o que aprendeu?

Se ainda ninguém lhes agradeceu
Agradeço eu!

Agradecemos nós!
Obrigada professora Lurdes Araújo!
E até já…

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ondulantes...Poemas de Trigo...Na seara da mente...

Ergo os braços,
Bem abertos
Para sentir esta liberdade presa no sopé da montanha…
E a meus pés…
Ondulas…
Arregalo os olhos…
Mas não chega!
Queria mais…
Não consigo guardar…
Registar a transparência com que oscilas…
Diáfano ritmo
Contorces-te diante dos meus olhos
Convidas-me a entrar numa dança impossível…

Frágeis pétalas de papoila
Salientes momentos vermelhos
Na seara ondulante de segredos
Rubros instantes
Pontos frágeis de poesia
Brotam do trigal da mente
No granjeio simples de poemas
Abandonados á mercê da madrugada que invejo

Subestima-se a beleza…
Ignora-se o sentir…
Se não se conhece o sabor do vento
Rajadas de vontades nesse ir e vir
Que me toca os sentimentos
Agita os desejos
Inimaginável beleza numa dança frenética
Onde brinca o meu olhar
Enquanto te vejo crescer
Não pares, não pares agora…
Tento agarrar-te
E nas minhas palavras visto-me de espigas
Desnudo a mente de olhos fechados
Sem pressas…
Sem limites…
Ao som arrepiantemente terno
Do roçar do vento entre nós
A beleza do trigo ondulante
Empresta-me um pedaço
Do seu espaço
Por instantes
Faz-me foice na tua seara
Sinto-me saloia subindo o monte
Inalando o perfume da tua espiga amadurecendo
Dourando nas ébrias gotas de orvalho…

Deito-me olhando o céu
E sinto a leveza do teu peso
Da beleza que me emprestas
Contento-me com estas migalhas
Do sustento que há-de ser um dia
Rendo-me aos teus sussurros
Melodioso roçar que a brisa te oferece
Quebra nas dobras do meu silêncio
O gosto doce que enfeitiça…
Dói-me já a partida
Quando a debulha te levar…

terça-feira, 6 de julho de 2010

Fonte...Mar...


Mar...
Fonte de onde bebo sem ver
Oh tempo, devolve-me as marés,
Cheias de sonhos…
Que banhavam o sopé da montanha…
Queimei momentos ao luar
Com achas de calmaria
De um arder rubro…
Fumos transparentes…
O silêncio fez-se espuma…
Nas ondas de segredos fugidias
A noite invade as memórias
Rebusca memórias de outras noites…
Será ainda o mar, vermelho?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Batel de sonhos...


As ondas de saudade
Apoderam-se das delicadas dunas
Nesta praia deserta onde me quebro
A imensidão da tua ausência
Enche-me de marés vazias
As sombras no horizonte
Destroem os castelos de areia
Que construi na vaga espuma do tempo
O nascer pardo do sol
Lembra-me que já é tarde
Pois já anoiteceu
O dia em que o mar me cercou
Fez-me zarpar rumo ao infinito
Naufragando na tempestade de silêncio
Deste grito calado de indiferença
Abalroado...
Pelo vento ao contrário que suga as velas
Vento que afaga os cabelos
Desalinhando os sentimentos
Uma teia de sal prende-me nos segredos
No porão abandonado deste barco
Sou refém de mim
Neste batel de sonhos
No mar seco de poemas á deriva
Sem porto seguro onde os atracar…



quinta-feira, 24 de junho de 2010

Bem-Hajam...


Bem-haja
Quero agradecer a todas as pessoas que me têm dado apoio carinho conforto e força, neste momento em que me sinto um pouco mais fragilizada que o costume.
Não sei se sou merecedora de tanto afecto…
Mas sinto aconchego em cada demonstração de ânimo, em cada palavra de incentivo, sinto e absorvo a energia das palavras que me são ditas ou dadas a ler…
Tenho reflectido em todas as formas de apoio que têm chegado até mim. Mas umas das que mais me emocionou foi o texto que a amiga Luna do blogue http://multiolhares-poetadaspiramides.blogspot.com/
Publicou no dia 22/06…
Como pode alguém que (na realidade) não conheço, que não me conhece, conhecer-me tão bem? (Quando existem pessoas na vida dita real que não me conhecem…)
São sem dúvida alguma, estes pequenos gestos que distinguem as grandes pessoas, os grandes seres humanos!
Obrigada Luna, por tudo…

Obrigado a quem directa ou indirectamente me deu a força que estava a precisar! Através de telefonemas, mensagens, de email, de comentários por aqui deixados (de alguns comentários em que me era pedido para não publicar e eu respeito) …
Bem-hajam, também todos quantos calaram, fecharam os olhos e seguiram olhando para o lado, como se eu não existisse…não fui eu que me tornei invisível, mas sim vocês que deixaram de me ver...

O meu muito obrigado a todos, assim sei com quem posso contar sempre!

Ainda que guerreira
Não sou invencível
Mas com vocês a protegerem-me
Sou mais forte…

Não sou especial
São vocês que me fazem sentir especial
Esta sensação inexplicável de que não mereço…
Mas encorajam-me…
Sinto por dever e gratidão
Retribuir…

Deste modo desajeitado
Desnudo as palavras
Com que queria fazer poesia
Mas não consigo
Jamais esquecerei
Este turbilhão de sentimentos…
Contidos…
De que transborda o meu coração
Mesmo que tivesse em minhas mãos
Todas as palavras do mundo
Só sairia um poema triste...

Descubro em cada imagem do mar
Uma energia que não sei explicar
Estranha conexão
É algo que me transcende
Ainda que do mar…o silêncio…
É nesse mar de silêncio
Que escuto o apelo intenso
Nas ondas mudas, revoltas
O impulso de avançar…
Quase lhe toco…
Num abraço frouxo…
O mar…
Espero no crepúsculo
A cumplicidade…
Acesa…
A agradável alegria do secreto sentir
Talvez seja a vontade inequívoca de um desejo
Á espera de um amanhecer com o murmúrio do mar




terça-feira, 22 de junho de 2010

Voltei...


Voltei!
Regresso de mansinho…
Sobrou-me tempo…
Neste tempo que escorria devagar…

A dor rasteja ainda presa a mim…
No ventre desnudado…
Desventrado âmago…
Onde as palavras nascem…
Dos rasgos secretos…
Flechas de vento fino, sombrio…
Trespassam as frinchas de confianças dispersas…
Varando as expectativas…

A alegria e os sonhos…
Andam de costas voltadas…
Apenas as mãos se encontram…
Entrelaçam-se para se ferirem…
No aperto desmedido da revolta que querem asfixiar…
Lágrimas frustradas…
Que enxugo á pressa…

(Porque tenho que ser forte?!)

O pulsar do espelho na mão trémula…
Reenvia a imagem desfeita…
O sabor a fel da verdade…
A cor fria do branco…
Tenta tapar a mágoa cristalina…
A pele enrugada num sorriso triste…

Algemada a mágoa á fútil esperança…
Que inutilmente alimentei na longa espera…
Disformes cicatrizes não se apagam…
Pedaços de incerteza reacenderam…
Nas noites que não passavam…
Nos ruídos que incomodavam…no silêncio que doía…
Revejo a dor sentida na nódoa negra da mão esquerda…
Que se disfarça lentamente em tons azulados…
Agora quero repousar…

Escreveria páginas e páginas…
Desta tristeza…
Um vazio sem tamanho…
Na subtil leveza das palavras indiferentes…
Voltei…
Regresso de mansinho…

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Até já...


No inicio era eu sozinha.
Escrevia para desabafar. Com a fúria do momento, ou com a ternura da ocorrência que me caia das mãos nesse instante. Dava rédea solta aos pensamentos, ou aprisionava as palavras inquietas, com aparências misteriosamente esburacadas… vestia as ideias em camuflados gastos, e deixava-as a corar ao luar de ninguém.
No inicio era eu sozinha.
E nem sei contar ao certo como foi esse inicio traiçoeiro, em que cai na armadilha das palavras. Ouvia risinhos de satisfação, por ter sido a presa fácil num dia difícil. Não me importei. Fundo era o abismo onde tinha caído, distante era a luz que não via, enormes as barreiras que não tinha força para derrubar, altos os muros tinham a altura longínqua para me sentar. Deixei-me ficar no cómodo incómodo em que a minha mente caíra e deixem-me dormir, só me restava sonhar…
Foi passando devagar á minha volta, o tempo que corria depressa.
Libertei-me da suave armadilha rendilhada, com que me prenderam as palavras, tornei-me amiga das minhas carrascas, guardiãs de segredos por confessar. Saí do fosso cativeiro com a ajuda das folhas rasgadas de um livro incógnito, onde descobri o autor anónimo inanimado, que hibernava ao meu lado, esperando desesperadamente os últimos raios do sol de Inverno para tecer uma manta de agasalho, e flutuar na jangada de pedra rumo á clareira no bosque.

Caminhando trôpega mente… Por um caminho que aprendi a desbravar de mãos nuas e pés descalços.
Cheguei!

Convoquei as palavras
Uma a uma
Chamei-as pelos nomes
Quis reuni-las todas em volta de mim
Acomodei-as em almofadas de tafetá
Lá ao fundo, as vogais juntavam-se timidamente,
Aninhavam-se e cobriam-se com um til…
A palavra MÃE sempre preocupada, aproximou-se de mansinho e pergunta:
_ Que aconteceu? Vais deixar-nos?
_ Tenho um segredo para vos contar! Vou deixar-vos entregues a vós por uns tempos…
A SENSIBILIDADE, desatou a chorar sentindo-se uma idiota, com todas as palavras a olharem estarrecidas…
Endireitou-se o ORGULHO ocultando atrás de si os SOLUÇOS desenfreados…
A TIMIDEZ sorria, pensando o que tinha de especial esta mulher para gostar assim tanto dela…
A SOLIDÃO, rasgou o véu de silêncio e disse com sarcasmo:
_ O que se passa aqui? Porque nos fazes gaguejar loucamente com teus malditos mistérios?
Senti-me de novo prisioneira das minhas palavras! Pupilas das quais tanto aprendi…
_ Olhem para mim! (disse num tom frio e ameaçador) Não quero que fiquem tristes, (era assim que eu estava, mas tinha que ser FORTE). Tenho que partir… (consegui balbuciar) …
As LÁGRIMAS, assomavam-se á janela dos olhos…
A RESONSABILIDADE e o DEVER, permaneciam hirtos olhando um horizonte cinzento…
O bom SENSO e a CONFIANÇA abriram caminho no alfabeto aglomerando um texto risonho de frases cristalinas… acenando-me um ADEUS entre ASPAS…
_ Sem ti não somos nada! Volta depressa! Disse baixinho a ESPERANÇA, encolhendo-se nos braços do SILÊNCIO…
O PONTO FINAL tremia…
_ Descansa! Não te quero usar…
Agitava-se a PREOCUPAÇÃO num palpitar assustador…
A VONTADE DE VENCER gritou-lhe entre linhas torcidas, para não se esquecer de VIVER, de como a VIDA é SIMPLES, e não deixar de ACREDITAR na BELEZA das coisas que não se vêem…
_ E sobretudo não te escondas de ti atrás de nós! Ouvira-se a OUSADIA…
Abri os olhos semicerrados de MEDO para não desprezar nenhuma das palavras que me rodeavam…tantas…e tão poucas…
_ Por favor, esperem por mim…ATÉ JÁ!
Não estava contudo preparada para admitir que iria ter SAUDADES das suas HUMILDES PALAVRAS.
Praguejou ao CONTRATEMPO esperado…
Agarrou na trouxa vazia, pendurou-a ao ombro e sem se virar abalou!


Ao inicio era sozinha, mas agora não! Olho em meu redor e alguém me olha! Alguém me segue! Alguém me fala! Alguém me lê, alguém me escuta! Alguém me ignora também… alguém me critica, alguém apoia e alguém se cala, passando por aqui apenas, sem deixar rasto.
A todos vocês devo algo, todos me ensinam, todos me mostram a saída e entregam as chaves das portas que teimosamente se fecham.
Vou estar ausente da blogosfera por algum tempo, e como acho que não devia simplesmente virar as costas sem dizer nada, sinto que informa-los do motivo da minha (espero que breve) ausência seria o mínimo que podia fazer…
Vou ser submetida a uma intervenção cirúrgica que requer (contra a minha vontade) alguma permanecia no hospital…
A todos vocês, obrigado e até já…