segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Se...


Se,

a vida é um presente,

Faz cuidado,

ao rasgar o papel de embrulho...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Húmus de lembranças...


O Inverno chegou quando partiste…
Demora-se a chuva nos meus olhos…
Embaciam-se as pétalas dos meus dedos…
Rasgo as cortinas de palavras indizíveis …
Condeno a distância enfurecida…
Entorno os sentimentos cansados…
Serpenteiam-se os medos repetidos…
Silenciados pelo vácuo que me engole…
As palavras encostam-se ao rosto…
Com temor dos trovões que estrondeiam…
Na cratera do meu peito…
Morrem em mim as esperanças por florir…
O sol murcho escorre por entre os dias frios…
Feitos de sombras e folhas secas…
Húmus de lembranças que não decompõe…

sábado, 21 de agosto de 2010

No céu brilha mais uma estrela...




Escrevo palavras que são lamentos
Transportam sentimentos tatuados
Os meus gritos em silêncio
Na procura eterna dos ínfimos porquês
Nas alamedas sombrias da vida…

Escrever é libertar dores?
Nesse caso, não me censurem que a dor não é alheia
Difícil de conter e explicar
Nestes momentos as emoções
São espinhos pungentes a agrilhoarem-me na distância
São amálgamas de coragem deambulando na imortal escuridão
São trajectos impossíveis nas asas da diferença rasgando-me o peito
São mãos amarradas com um cordel lancinante de impotência
Olhos repletos de uma saudade espremida
Que vertem a custo pingos de força…

No silêncio cúmplice da noite partiste…
O vento negro envolto num véu de morte
Sopra de mansinho quando tudo se cala
Empurrando-te para o paraíso
A meia-luz da existência apagou-se
Noventa anos depois
Acende-se no céu mais uma estrela
Transpondo o vazio que perdura
Neste universo onde nada somos…

A partida é um quadro que pinto ainda
Onde a tinta escorre em tons de dor…

Não sabia a forma das letras
Nem o valor do dinheiro
Sabia sim o valor dos afectos que não têm preço…
Sabia ler as horas que passavam devagar…
Reconhecia de memória as silhuetas dos ventos…
A dançarem nos montes…
Dos tempos…A saudade…
O aroma e as cores das estações do ano,
Que lhes escorriam meigamente das mãos calejadas
Por décadas de trabalhos árduos…
De sol a sol nos tempos de miséria…
Via as estrelas do pastor primeiro que todos…
E despedia-se da lua depois de todos…
Hoje no céu brilha mais uma estrela…
A nossa…Que é você…

Guardarei para sempre a expressão delicada do seu rosto magro, cansado
A doçura do olhar, enquanto se desenhava um adeus escrito com lágrimas
A serenidade aceitando um “até breve” que jamais virá…

Eterno descanso…
Á pessoa mais humilde, pura e honesta que eu conheci até hoje…


Ao meu querido sogro!


10.08.1920/19.08.2010


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Retorno...


São de cristal as palavras
Já estilhaçadas…
Fragmentos de dias perdidos
A brilhar na distância percorrida
Abro a janela da alma
E sinto um vazio
Esperei-as
E já partiram…
Trago nas mãos as saudades
Da imensidão do mar
Escolho o silêncio
Para gritar o que sinto
E reconstruir calmamente
Com os fragmentos dos dias perdidos
O abrigo onde me quero guardar
Das palavras de cristal que estilhaçam na mente
Escorrem na face
E pendem no abismo que me suprime o equilíbrio
No retorno aos dias vazios…