terça-feira, 27 de abril de 2010

Mar...


Esta calma…
Que desagua no meu olhar…
Como só o mar consegue…
E contemplo…
Amontoados de beleza…

Guardo desejos horizontais
Nas prateleiras oblíquas da natureza
Lembram-me as ondas da tua ausência
Dobrando o cabo da saudade
A inexistência do teu sorriso
Que me escorre no pensamento
Vagas de ilusão flutuam na mente
Mas do mar que invento, só murmúrios
Refugio-me num búzio por encontrar
Quando a tempestade teima em não passar

Arrasto as redes de palavras vazias
Anoitecem sem amanhecer os dias

Amuo na frustração vertical
Penetro no teu azul
Deste mar de indiferença
E embalo nos desejos horizontais
Ancorados nos meus sonhos….

sábado, 24 de abril de 2010

Espelho

(imagem da internet)
Componho os óculos embaciados
Tento decifrar
O reflexo estrábico
Que me olha enviesado
No espelho oblíquo

Suspendo o respirar
Da imagem
Para não incomodar

É deprimente
Qual retrato barato
Da criança lamecha que o espelho me regala
Aparente visão desfocada
Não recuo...

Mas respiro
Quadro ondulante
Ia jurar que o mar está calmo!

Contudo,
Este espelho ébrio
Exibe tudo ao contrário
Desajustado

Acabo por te ignorar…
Não me descubro ai completamente
Vou arriscar procurar na repartição dos achados e perdidos…
A ver se me encontraram por ai num pedaço de ti…

quarta-feira, 21 de abril de 2010

(In)Oportuna...Teia...

( foto, *Sissi* olhares...)
Constantemente apanhada
Nas teias da escrita
Expondo o que quero esconder
E guardando o que queria dizer
Brinco às escondidas com as palavras
Mergulho no descuido
Charco apinhado
Dos parágrafos que me regem
Imponho-me reticências
Sinto a limpidez da folha em branco
Bradando clemência…
Arquivo de novo os pensamentos insanos
Nessa gaveta repleta de vazios
Regrada memória abstracta
Esperneando em vão
Na fortaleza dos frágeis filamentos de teia...

domingo, 18 de abril de 2010

Mas...


Mas…
Um dia precisei de um favor teu…
Precisei de uma coisa que não tem preço…
Um simples gesto que cresce e ecoa dentro de nós…
Tão pequena cortesia…
Quando negada bloqueia a engrenagem dos sentimentos…
Resfriando-os…
Incidentalmente marcando-nos para sempre…
Lubrifico a dor…
Com as lágrimas que sorvo…
Escrevo as palavras que me aliviam…
Mas não me esqueço…
Um dia precisei de um favor teu…
Mas…
Mas não vi por lado algum o teu sorriso…

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Impecável...(mente)...Azul...



Do batel insignificante poema á deriva
Atiro palavras rasgadas ao profundo azul
Azul profundo de um mar desconhecido
Misturas cristalinas de azuis
Escondem errantes segredos
Cúmplice o céu azul espelha
Vertido desejo num mar tranquilo…

Espraiam-se até ao infinito
Sentimentos escorregadios
Ocultas telas coreografadas
Amparadas por cadências
Esculpidas reticências
Esvoaçam sobre o azul do mar
Inconsciente inexistência de pensar...

Numa ondulação arrepiantemente calma
O fulgor deste pensar poético
Veleiro sem leme
Aponta no horizonte traiçoeiro
Pérfidas amuradas
Onde a brisa repuxa devaneios
Suaves dunas bordadas
Esteiras de espuma
Palavras ancoradas na saudade
Cravam-me na pele a profundeza de um mar azul…

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ilusão...


Adormeceram-me as ondas em alto mar
Nos raios que o sol escondeu
Varreram as cadências para dentro de um búzio
Os salpicos de vento que guardei não me bastam
Para sentir em mim a maresia deste oceano de saudade
As lembranças escritas são dunas amontoadas
Dantescas conchas de mim vazias
Esse quebra-mar castiga-me o pensar em segredo
Sedutora sussurra-me a luz do farol
A cada grão de areia quebradiço que esvoaça
Desenraízam o aloé que plantei
Nas marés de ilusão
Com brisas silenciosas…

sexta-feira, 9 de abril de 2010

(In)Completo...Vazio...

(foto, olhares.com)

Esmorece o ensolarado sorriso…
Entre o abismo e a luz…
O vazio… Surge com as orlas da noite…
O vazio…
Persigo o passado…
Paraliso o presente…
Desprezo o futuro…
E ri-se o vazio…
Ecoam nas trevas gargalhadas de breu…
É o universo revolto…
Com o meu ego semivivo…
Vagueando no infinito…
Vazio…
Onde encontro fragmentos…
De esquecidos agonizantes momentos por achar…
No vazio…
Mudo morto…
Estende-se uma mão que me guia…
Mão que já não quero agarrar…
E fica o vazio…

segunda-feira, 5 de abril de 2010

(In)Conformada...


Escondo-me na minha sombra
Para ninguém tropeçar em mim
Alimento-me do cheiro das palavras
Que não sei escrever
O universo não se incomoda com o meu sofrer
Cansada de esmolar afectos
E receber amarguras
Corroem-me as entranhas as palavras tóxicas
Que não expulso
Confesso-me para dentro
Dos crimes que não cometo
Respiro quase por desespero
Preciso tanto chorar
Mas já não tenho mais lágrimas
Colossal secagem de prantos
Engulo a enxurrada dos ais que soluço
Para não acordar sentimentos entorpecidos
Agarro nos remos partidos
Navego á deriva num rio de tristeza
Para afogar as mágoas nesta cascata de sentimentos
Fecho os olhos e voo com as asas de pedra
Encravadas na minha quietude
Aconchego-me num grão de areia perdido
Na minha sombra…

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Pudesse eu ser...Ostera...


Ostera…
Quisera eu ser, nem que fosse por um dia
Ostera a Deusa do renascimento
Numa cesta inventada transbordaria alegria
As lágrimas seriam estrelas no firmamento


Quisera eu ser nem que fosse por um dia
Ostera a Deusa da Primavera
Numa cesta inventada traria flores
E na mão livre transportaria o sol
Vestia-me de verde afugentava as dores
E na escuridão do dia seria farol

Quisera eu ser, nem que fosse por um dia
Ostera a Deusa da fertilidade
E no frio estéril deserto
Germinaria a felicidade
Semeada a passo certo

Quisera eu ser nem que fosse por um dia
Ostera a Deusa da alegria
Roubaria as cores do arco-íris
Do universo a sua beleza
Confeccionaria momentos felizes
Ofertava ovos doces sem amarga surpresa…

Pudesse eu ser Ostera…
Nem que fosse por um dia…

Feliz Páscoa!


(foto olhares.com)