sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sonho...(Im)Possivel...



Ouço ao longe o som da fogueira a crepitar…
Acordo, indisposta no sofá de veludo…
Onde adormecera, entre almofadas de volúpia…
Vou regurgitar palavras tuas…
Cuspidas a fogo…
As quais bebi, sedenta de quimeras na fonte magistral
Fixo meus olhos na abóbada do amanhecer…
Mas nada vejo…
Que lugar é este?
Onde estou?
Descubro-me ainda cega…
Maldade do teu olhar, de medusa que és
Desmedido o castigo dado por ti…
Por ter contemplado uma acha, alada, flamejante…
Na lareira do teu refúgio de pecado…
Cegando-me repentinamente…
Fazem-me azia os sobejos de letras que me foram servidos á descrição…
Na exuberante recepção, na qual me acolheste em ambiente sagaz…
Lembranças de tempos idos…
Mágoas dos destinos por encontrar…
Na cegueira em que encontro.
Confundo-me e,
Perco-me no inconsciente…
Percorro com cautela os contornos do desconhecido…
Tacteando os limites, por onde me desloco….
Sigo o som crepitante da lareira…
Melodia cúmplice do prazer…
Tropeço em palavras, soltas, espalhadas pelo chão da sala…
Sinto-me perturbada pelo perfume que inalo…
Há no ar um cheiro agradável de resina queimada…
Dos verdes pinheiros outrora cúmplices deslumbrados…
Por actos hereges, envoltos em maresia…
De amores proibidos…
Estendo meus braços errantes, em busca de ti…
Mas não consigo alcançar-te…
Sento-me de novo no macio sofá…
Escuto a sinfonia crepitante do fogo…
No concerto de achas ardidas…
Onde perduraram aplausos de cinzas frias…
Sinto no meu rosto a carícia de um beijo inventado…
No ombro nu, o carinho de tuas mãos distantes…
E ouço meigo o sussurro de teus lábios soltos,
Que me prendem a ti:
_ Buon giorno amore! Te sei addormentata di nuovo sul divano!
Svegliatte, é gia mattina, ti voglio bene, tesoro, sai?
_ Buon giorno caro! Que bruto incubo que ho avuto…anche io te voglio bene!

Abro os olhos...

Olho para a lareira…
Já não arde em labaredas, mas emana ainda algum calor do borralho…
No rescaldo do sono da existência…
Consigo ver afinal…
Fora tudo um simples sonho…
Desligo a televisão e levanto-me…
Esperando a próxima noite…
Para tentar sonhar, talvez contigo…


(foto, olhares.com)

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