domingo, 16 de janeiro de 2011

A viagem...*(continuação)

Continuação...

Gare do Oriente! Ali, tão perto de si todos os dias, e nunca a visitara, estava na hora de embarcar em outras viagens, pensou!
- Um bilhete para Madrid se faz favor.
Procura na carteira o maço de tabaco enquanto a Sra. com um sorriso postiço esticava os dedos preguiçosos nas teclas do computador para indicar o destino de mudança.
Agradeceu, com um sorriso equivalente, acendeu um cigarro enquanto dobrava o bilhete e sem saber como o metia dentro do maço do seu vicio reavivado, havia já meses que não fumava…
Sentou-se no lugar á janela, queria admirar a beleza que pudesse haver naquela tarde nublada, tão cinzenta como o seu coração.
Mas não encontrava, fincava o olhar num ponto fixo do vidro por onde escorriam imagens, e nada tinham a ver com as imagens do filme que rodava há já uns dias na sua cabeça.
Procurava na paisagem ondulante um vazio, um vazio que por momentos a engolisse da realidade…
Momentos depois de o comboio começar a entrar no andamento certo e ininterrupto, desvia a cabeça do vidro, e ergue os ombros respira fundo e promete a si mesma que não vai ceder á melancolia!
Arrumar as ideias!
Isso mesmo arrumar as ideias, nas prateleiras invisíveis da mente e concentrar-se no que realmente importa!
O futuro.
Procura na carteira a agenda para conferir os últimos pormenores da reunião, vem-lhe primeiro á mão o maço de cigarros antigo, e pensa começar já por ali, não iria agarrar-se de novo ao vício que já tinha esquecido. Deita-o fora juntamente com outros papéis que agora já não faziam sentido, como recadinhos de amor em papel autocolante que encontrava de vez em quando pela manhã colocados no computador, ela para os desfrutar durante o dia trazia-os consigo. Sentimentalista de meia tigela disse de si para si!
Amarrotou tudo e colocou no cestinho do lixo que encontrou na casa de banho serpenteante deste comboio fantasma.
Quase fantasma, quase vazio, pelo menos a carruagem que ocupava, mas preferia assim, teria mais espaço e silêncio para reflectir e descansar.

- Bilhete por favor. Acordou-a a voz do revisor.
- Sim, um momento enquanto procuro aqui…o…bilhete…Oh, não… o meu bilhete! Não é possível que eu o…tenha…colocado no maço…oh, merd…! Não é possível!
- O bilhete por favor minha senhora!
- Sei que pode parecer absurdo, e vai rir-se de mim, mas acho que deitei o meu bilhete fora, era um habito que tinha de quando era estudante, tirava o bilhete e metia-o dentro do maço dos cigarros assim estava sempre á mão, e acho que a minha mente não se esqueceu e comandou sem me avisar… e agora que faço?
- Pois eu não sei, sou novo neste emprego, sabe como é, a crise obriga-nos constantemente a mudar e eu não sei o que se faz numa situação destas, e se me está a mentir e não há bilhete nenhum? Sabe-se lá o que as pessoas hoje em dia inventam para não pagarem?
- Juro que comprei bilhete!
Os olhos suplicantes pediam-lhe que acreditasse que era verdade.
E ele sabia que era verdade, estava sentado na gare á espera do mesmo comboio para trocar de turno com o colega que chegaria á hora certa como um relógio suíço. Quando reparou na silhueta daquela mulher elegantemente vestida e com o olhar distante!
O seu emprego de detective nas horas livres, tinha lhe dado a sabedoria e a perspicácia de estar atento a pequenos detalhes que a outros pareceriam comportamentos normais. Viu exactamente o gesto inconsciente das mãos a agirem sozinhas, a dobrarem aquele rectângulo de papel, pois a mente não as comandava estava demasiado ocupada. Só não sabia com o quê, mas iria descobrir…
Ficou feliz ao ver que embarcara no mesmo comboio que ele…

- Bom, eu vou continuar, espero que encontre o bilhete voltarei aqui quando acabar de controlar tudo!
E voltou, mais tarde, muito mais tarde, ficou parado encostado ao banco a vê-la dormir com as mãos entrelaçadas em volta do estômago.
Como é bonita!
O sorriso maroto denunciava-o.
Adivinhava o contorno dos seios, bailarinos que dançavam numa liberdade conquistada debaixo daquele vestido primaveril!
Sentou-se ao seu lado. Acordando-a com um suave toque no ombro.
- Não encontrei o, o bilhete…Disse-lhe sobressaltada.


Continua...
*N.A_ A viagem...(Mini texto escrito a pedido de uma pessoa para participar numa selecção de mini contos.)
Fotos Flor Alpina

24 comentários:

  1. olá ,merci por comentário em campos meus de girassois,assim, como pelo solidário comentário, feliz ficaria em mutuamente nos seguirmos!

    viva la vie

    ResponderEliminar
  2. E eu continuo deste lado...:):):)
    Abracinho meu!

    ResponderEliminar
  3. Se bem me parece fecha-se uma porta mas abre-se uma janela!
    Vou continuando a aguardar o desfecho.
    Santo Domingo
    Bjs.
    Mer

    ResponderEliminar
  4. Muito bom! Espero a continuação...
    Bjs*

    ResponderEliminar
  5. Olá, Flor!

    Como é costume dizer-se nestes casos, apanhei o comboio já em andamento, de modo que tive que voltar atrás, à estação anterior, curiosamente em forma de alcova, para conseguir pegar no fio da meada.
    E depois do que li, já estou para aqui imaginar que o revisor bem poderá ser um príncipe disfarçado, e que este encontro seja o início duma linda história de amor.Curioso, vou seguir viagem, a ver até onde ela me vai levar.

    Beijinho; bom resto de domingo. E uma boa classificação, já que o enredo tem todos os condimentos para agradar ao júri.

    Vitor

    ResponderEliminar
  6. Olá!
    Cheguei atrasada mas ainda a tempo de apanhar este comboio...
    Li o texto anterior. Gostei mesmo muito. Bem narrado, com ritmo, a deixar o leitor a pedir mais.
    Venho concerteza ler o próximo capítulo.
    BEIJOS

    ResponderEliminar
  7. Viajar é uma das minhas paixões maiores, rrss

    Uma feliz semana

    ResponderEliminar
  8. OLá Flor.
    Tal omo o Vitor e a Loli, tive que desapear deste caítulo e ir ao anterior. Penso que posso seguir viagem, já estou em cima do acontecimento.
    Algo me diz que esta história ainda vai dar uma grande reviravolta.
    Cá fico a aguardar.
    Esta é a terceira história que acompanho e me anda a pôr empolgada. Isto agora é só suspense!!!
    Beijos Flor.
    Janita

    ResponderEliminar
  9. Oi Flor

    Cheguei ao cabo do comboio, mas estou adorando.
    Está ficando cada vez melhor. Espero o próximo capítulo.

    Bjs no coração!

    Nilce

    ResponderEliminar
  10. Olá, quase que pareço eu mas com o bilhete do parque aqui em Braga, quando viajamos de comboio, pomos o carro e no regresso é só sair, fui à bilheteira já para isso, estava tão distraida, o homem do guichet diz; então, o bilhete e eu dei apenas o do comboio..o outro? qual outro, já tinha visto todos com dois bilhetes na mão mas nem assim atinava...jesus... qual outro? e ele; então como trouxe o carro para aqui? ahhhh fez-se luz! Desculpe estou mesmo desmemoriada, lá estava ele na carteira de onde antes tirara só o do comboio...Menina nisto há que por o bilhete bem guardado e lembrado... ora deixa lá ver se o revisor não abranda, o que ele quer é estar com a nina linda que não sabe onde despejou o bilhete...

    beijinhos laura

    ResponderEliminar
  11. Belo conto narrado com ternura. Fico à espera da continuação, que será de certeza interessante e empolgante.

    Espero por ti

    Beijo

    ResponderEliminar
  12. Gosto das imagens e também estou a gostar do mini-conto :)

    ResponderEliminar
  13. hummmm... tá ficando muito bom. Só espero que seja um encontro daqueles que a gente espera a vida inteira, um encontro que leve ao amor, amor de verdade, companheiro e amigo. De qualquer modo, já te sigo pra não perder o próximo capítulo.
    Vou te contar um segredo: meu grande sonho era morar na Suiça. Me apaixonei por esse país e acho q seria feliz aí. Vc mora na Suiça francesa? Se eu pudesse escolher, moraria onde se fala francês. Pra mim seria mais fácil. Mas a Suiça é linda inteirinha, né não?
    Vá conhecer meu blog. Ficaria muito feliz. Beijokas.
    Seguindo...

    ResponderEliminar
  14. Ah! Eu sabia que seria plena de emoção a continuação do teu delicioso texto!:)

    Beijos!
    AL

    ResponderEliminar
  15. A viagem promete...
    tem todos os ingredientes para dar uma belissima história...ah, como a escreves com tanta ternura e sedução!
    Voltarei para o próximo capitulo.

    beijinhos
    canduxa

    ResponderEliminar
  16. Olá Flor
    Esta viagem é muito longa :),entre paragens, vou continuando a deliciar-me com esta bela história
    Bjs.

    ResponderEliminar
  17. ola flor eu estava a perder esta viagem mas consegui apanhar o comboio numa das paragens e ja voltei para continuar esta maravilhosa viagem,muito obrigada querida amiga voce e muito especial beijinhos

    ResponderEliminar
  18. Olá Flor!
    Muito bom as tuas letras, sempre a mostrar a tua forma unica da escrita...
    Voltarei para apreciar o desfecho de tão encantadora viagem...

    Livinha

    ResponderEliminar
  19. Olá, Flor
    Como não tinha lido o post anterior, comecei por lá para apanhar o fio à meada :)
    Estou a gostar muito do conto, que está escrito duma forma que atrai o leitor.
    Virei pela continuação.

    Uma boa semana. Beijinhos

    ResponderEliminar
  20. ...rsrsrs
    Se eu fosse o cobrador perduava-a!
    Uma mulher bonita, ainda por cima adormecida,
    é para ser contemplada.
    rsrsrsrs
    bjs
    G.J.

    ResponderEliminar
  21. Olá Flor...
    Estou num assento bem perto deles para não perder pitada.
    Até já...
    Kandandos meus.

    ResponderEliminar
  22. Flor Alpina

    Um mundo grande mas pequeno
    Todos nos cruzamos se quisermos

    beijos

    ResponderEliminar
  23. "Isso mesmo arrumar as ideias," aguardo o final.
    Bjs em seu coração.

    ResponderEliminar
  24. os homens são mesmo danadinhos
    beijinhos

    ResponderEliminar