
No inicio era eu sozinha.
Escrevia para desabafar. Com a fúria do momento, ou com a ternura da ocorrência que me caia das mãos nesse instante. Dava rédea solta aos pensamentos, ou aprisionava as palavras inquietas, com aparências misteriosamente esburacadas… vestia as ideias em camuflados gastos, e deixava-as a corar ao luar de ninguém.
No inicio era eu sozinha.
E nem sei contar ao certo como foi esse inicio traiçoeiro, em que cai na armadilha das palavras. Ouvia risinhos de satisfação, por ter sido a presa fácil num dia difícil. Não me importei. Fundo era o abismo onde tinha caído, distante era a luz que não via, enormes as barreiras que não tinha força para derrubar, altos os muros tinham a altura longínqua para me sentar. Deixei-me ficar no cómodo incómodo em que a minha mente caíra e deixem-me dormir, só me restava sonhar…
Foi passando devagar á minha volta, o tempo que corria depressa.
Libertei-me da suave armadilha rendilhada, com que me prenderam as palavras, tornei-me amiga das minhas carrascas, guardiãs de segredos por confessar. Saí do fosso cativeiro com a ajuda das folhas rasgadas de um livro incógnito, onde descobri o autor anónimo inanimado, que hibernava ao meu lado, esperando desesperadamente os últimos raios do sol de Inverno para tecer uma manta de agasalho, e flutuar na jangada de pedra rumo á clareira no bosque.
Caminhando trôpega mente… Por um caminho que aprendi a desbravar de mãos nuas e pés descalços.
Cheguei!
Convoquei as palavras
Uma a uma
Chamei-as pelos nomes
Quis reuni-las todas em volta de mim
Acomodei-as em almofadas de tafetá
Lá ao fundo, as vogais juntavam-se timidamente,
Aninhavam-se e cobriam-se com um til…
A palavra MÃE sempre preocupada, aproximou-se de mansinho e pergunta:
_ Que aconteceu? Vais deixar-nos?
_ Tenho um segredo para vos contar! Vou deixar-vos entregues a vós por uns tempos…
A SENSIBILIDADE, desatou a chorar sentindo-se uma idiota, com todas as palavras a olharem estarrecidas…
Endireitou-se o ORGULHO ocultando atrás de si os SOLUÇOS desenfreados…
A TIMIDEZ sorria, pensando o que tinha de especial esta mulher para gostar assim tanto dela…
A SOLIDÃO, rasgou o véu de silêncio e disse com sarcasmo:
_ O que se passa aqui? Porque nos fazes gaguejar loucamente com teus malditos mistérios?
Senti-me de novo prisioneira das minhas palavras! Pupilas das quais tanto aprendi…
_ Olhem para mim! (disse num tom frio e ameaçador) Não quero que fiquem tristes, (era assim que eu estava, mas tinha que ser FORTE). Tenho que partir… (consegui balbuciar) …
As LÁGRIMAS, assomavam-se á janela dos olhos…
A RESONSABILIDADE e o DEVER, permaneciam hirtos olhando um horizonte cinzento…
O bom SENSO e a CONFIANÇA abriram caminho no alfabeto aglomerando um texto risonho de frases cristalinas… acenando-me um ADEUS entre ASPAS…
_ Sem ti não somos nada! Volta depressa! Disse baixinho a ESPERANÇA, encolhendo-se nos braços do SILÊNCIO…
O PONTO FINAL tremia…
_ Descansa! Não te quero usar…
Agitava-se a PREOCUPAÇÃO num palpitar assustador…
A VONTADE DE VENCER gritou-lhe entre linhas torcidas, para não se esquecer de VIVER, de como a VIDA é SIMPLES, e não deixar de ACREDITAR na BELEZA das coisas que não se vêem…
_ E sobretudo não te escondas de ti atrás de nós! Ouvira-se a OUSADIA…
Abri os olhos semicerrados de MEDO para não desprezar nenhuma das palavras que me rodeavam…tantas…e tão poucas…
_ Por favor, esperem por mim…ATÉ JÁ!
Não estava contudo preparada para admitir que iria ter SAUDADES das suas HUMILDES PALAVRAS.
Praguejou ao CONTRATEMPO esperado…
Agarrou na trouxa vazia, pendurou-a ao ombro e sem se virar abalou!
Ao inicio era sozinha, mas agora não! Olho em meu redor e alguém me olha! Alguém me segue! Alguém me fala! Alguém me lê, alguém me escuta! Alguém me ignora também… alguém me critica, alguém apoia e alguém se cala, passando por aqui apenas, sem deixar rasto.
A todos vocês devo algo, todos me ensinam, todos me mostram a saída e entregam as chaves das portas que teimosamente se fecham.
Vou estar ausente da blogosfera por algum tempo, e como acho que não devia simplesmente virar as costas sem dizer nada, sinto que informa-los do motivo da minha (espero que breve) ausência seria o mínimo que podia fazer…
Vou ser submetida a uma intervenção cirúrgica que requer (contra a minha vontade) alguma permanecia no hospital…
A todos vocês, obrigado e até já…