
“Uma mulher poeta é duplamente mulher”
Li esta frase a páginas tantas de um livro, gostei…
Mas como não sou poeta, sou apenas mulher, faço-me acompanhar de um grande poema que sempre gostei muito de ler, de ouvir, e de o interpretar…
"Calçada de Carriche"
Luísa sobe, sobe a calçada,
sobe e não pode que vai cansada.
Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe sobe a calçada.
Saiu de casa de madrugada;
regressa a casa é já noite fechada.
Na mão grosseira, de pele queimada,
leva a lancheira desengonçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Luísa é nova, desenxovalhada,
tem perna gorda, bem torneada.
Ferve-lhe o sangue de afogueada;
saltam-lhe os peitos na caminhada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Passam magalas, rapaziada,
Apalpam-lhe as coxas, não dá por nada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Chegou a casa não disse nada.
Pegou na filha, deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa numa golada;
lavou a loiça, varreu a escada;
deu jeito à casa desarranjada;
coseu a roupa já remendada;
despiu-se à pressa, desinteressada;
caiu na cama de uma assentada;
chegou o homem, viu-a deitada;
serviu-se dela, não deu por nada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Na manhã débil, sem alvorada,
salta da cama, desembestada;
puxa da filha, dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa, desengonçada;
anda, ciranda, desaustinada;
range o soalho a cada passada;
salta para a rua, corre açodada,
galga o passeio, desce a calçada,
desce a calçada, chega à oficina à hora marcada,
puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa, larga que larga;
toca a sineta na hora aprazada,
corre à cantina, volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa, larga que larga. Regressa a casa é já noite fechada.
Luísa arqueja pela calçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada, sobe que sobe, sobe a calçada, sobe que sobe, sobe a calçada. Anda, Luísa,
Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada.
"António Gedeão"
EU/TU...MULHER...

Dedicam-te um dia no ano…
Mulher…
Dia oito…
Quase por esmola, ou vergonha?
Feita num oito… andas tu/eu todos os dias…
E os outros dias todos, são de quem?
São teus/meus todos os dias…
Mulher-a-dias…dias e dias Mulher…
E tutti-quantis…
Um dia da Mulher…
Ainda para assinalar…o que se esquecem depois de lembrar…
E oferecem-te um dia 8…
Rola rebola e quando não se apruma de novo…
Numero oito…
Parecem as algemas que te prendem a esse sexo que dizem fraco…
Dos fracos são as palavras sem nexo…
És a fraqueza dos fortes…
E a força dos fracos…
Não, não é de revolta o meu sentir…
Mas de orgulho…
Orgulho-me de ser Mulher!
Eu simplesmente MULHER!
fotos e poema Flor Alpina