terça-feira, 29 de junho de 2010

Batel de sonhos...


As ondas de saudade
Apoderam-se das delicadas dunas
Nesta praia deserta onde me quebro
A imensidão da tua ausência
Enche-me de marés vazias
As sombras no horizonte
Destroem os castelos de areia
Que construi na vaga espuma do tempo
O nascer pardo do sol
Lembra-me que já é tarde
Pois já anoiteceu
O dia em que o mar me cercou
Fez-me zarpar rumo ao infinito
Naufragando na tempestade de silêncio
Deste grito calado de indiferença
Abalroado...
Pelo vento ao contrário que suga as velas
Vento que afaga os cabelos
Desalinhando os sentimentos
Uma teia de sal prende-me nos segredos
No porão abandonado deste barco
Sou refém de mim
Neste batel de sonhos
No mar seco de poemas á deriva
Sem porto seguro onde os atracar…



quinta-feira, 24 de junho de 2010

Bem-Hajam...


Bem-haja
Quero agradecer a todas as pessoas que me têm dado apoio carinho conforto e força, neste momento em que me sinto um pouco mais fragilizada que o costume.
Não sei se sou merecedora de tanto afecto…
Mas sinto aconchego em cada demonstração de ânimo, em cada palavra de incentivo, sinto e absorvo a energia das palavras que me são ditas ou dadas a ler…
Tenho reflectido em todas as formas de apoio que têm chegado até mim. Mas umas das que mais me emocionou foi o texto que a amiga Luna do blogue http://multiolhares-poetadaspiramides.blogspot.com/
Publicou no dia 22/06…
Como pode alguém que (na realidade) não conheço, que não me conhece, conhecer-me tão bem? (Quando existem pessoas na vida dita real que não me conhecem…)
São sem dúvida alguma, estes pequenos gestos que distinguem as grandes pessoas, os grandes seres humanos!
Obrigada Luna, por tudo…

Obrigado a quem directa ou indirectamente me deu a força que estava a precisar! Através de telefonemas, mensagens, de email, de comentários por aqui deixados (de alguns comentários em que me era pedido para não publicar e eu respeito) …
Bem-hajam, também todos quantos calaram, fecharam os olhos e seguiram olhando para o lado, como se eu não existisse…não fui eu que me tornei invisível, mas sim vocês que deixaram de me ver...

O meu muito obrigado a todos, assim sei com quem posso contar sempre!

Ainda que guerreira
Não sou invencível
Mas com vocês a protegerem-me
Sou mais forte…

Não sou especial
São vocês que me fazem sentir especial
Esta sensação inexplicável de que não mereço…
Mas encorajam-me…
Sinto por dever e gratidão
Retribuir…

Deste modo desajeitado
Desnudo as palavras
Com que queria fazer poesia
Mas não consigo
Jamais esquecerei
Este turbilhão de sentimentos…
Contidos…
De que transborda o meu coração
Mesmo que tivesse em minhas mãos
Todas as palavras do mundo
Só sairia um poema triste...

Descubro em cada imagem do mar
Uma energia que não sei explicar
Estranha conexão
É algo que me transcende
Ainda que do mar…o silêncio…
É nesse mar de silêncio
Que escuto o apelo intenso
Nas ondas mudas, revoltas
O impulso de avançar…
Quase lhe toco…
Num abraço frouxo…
O mar…
Espero no crepúsculo
A cumplicidade…
Acesa…
A agradável alegria do secreto sentir
Talvez seja a vontade inequívoca de um desejo
Á espera de um amanhecer com o murmúrio do mar




terça-feira, 22 de junho de 2010

Voltei...


Voltei!
Regresso de mansinho…
Sobrou-me tempo…
Neste tempo que escorria devagar…

A dor rasteja ainda presa a mim…
No ventre desnudado…
Desventrado âmago…
Onde as palavras nascem…
Dos rasgos secretos…
Flechas de vento fino, sombrio…
Trespassam as frinchas de confianças dispersas…
Varando as expectativas…

A alegria e os sonhos…
Andam de costas voltadas…
Apenas as mãos se encontram…
Entrelaçam-se para se ferirem…
No aperto desmedido da revolta que querem asfixiar…
Lágrimas frustradas…
Que enxugo á pressa…

(Porque tenho que ser forte?!)

O pulsar do espelho na mão trémula…
Reenvia a imagem desfeita…
O sabor a fel da verdade…
A cor fria do branco…
Tenta tapar a mágoa cristalina…
A pele enrugada num sorriso triste…

Algemada a mágoa á fútil esperança…
Que inutilmente alimentei na longa espera…
Disformes cicatrizes não se apagam…
Pedaços de incerteza reacenderam…
Nas noites que não passavam…
Nos ruídos que incomodavam…no silêncio que doía…
Revejo a dor sentida na nódoa negra da mão esquerda…
Que se disfarça lentamente em tons azulados…
Agora quero repousar…

Escreveria páginas e páginas…
Desta tristeza…
Um vazio sem tamanho…
Na subtil leveza das palavras indiferentes…
Voltei…
Regresso de mansinho…

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Até já...


No inicio era eu sozinha.
Escrevia para desabafar. Com a fúria do momento, ou com a ternura da ocorrência que me caia das mãos nesse instante. Dava rédea solta aos pensamentos, ou aprisionava as palavras inquietas, com aparências misteriosamente esburacadas… vestia as ideias em camuflados gastos, e deixava-as a corar ao luar de ninguém.
No inicio era eu sozinha.
E nem sei contar ao certo como foi esse inicio traiçoeiro, em que cai na armadilha das palavras. Ouvia risinhos de satisfação, por ter sido a presa fácil num dia difícil. Não me importei. Fundo era o abismo onde tinha caído, distante era a luz que não via, enormes as barreiras que não tinha força para derrubar, altos os muros tinham a altura longínqua para me sentar. Deixei-me ficar no cómodo incómodo em que a minha mente caíra e deixem-me dormir, só me restava sonhar…
Foi passando devagar á minha volta, o tempo que corria depressa.
Libertei-me da suave armadilha rendilhada, com que me prenderam as palavras, tornei-me amiga das minhas carrascas, guardiãs de segredos por confessar. Saí do fosso cativeiro com a ajuda das folhas rasgadas de um livro incógnito, onde descobri o autor anónimo inanimado, que hibernava ao meu lado, esperando desesperadamente os últimos raios do sol de Inverno para tecer uma manta de agasalho, e flutuar na jangada de pedra rumo á clareira no bosque.

Caminhando trôpega mente… Por um caminho que aprendi a desbravar de mãos nuas e pés descalços.
Cheguei!

Convoquei as palavras
Uma a uma
Chamei-as pelos nomes
Quis reuni-las todas em volta de mim
Acomodei-as em almofadas de tafetá
Lá ao fundo, as vogais juntavam-se timidamente,
Aninhavam-se e cobriam-se com um til…
A palavra MÃE sempre preocupada, aproximou-se de mansinho e pergunta:
_ Que aconteceu? Vais deixar-nos?
_ Tenho um segredo para vos contar! Vou deixar-vos entregues a vós por uns tempos…
A SENSIBILIDADE, desatou a chorar sentindo-se uma idiota, com todas as palavras a olharem estarrecidas…
Endireitou-se o ORGULHO ocultando atrás de si os SOLUÇOS desenfreados…
A TIMIDEZ sorria, pensando o que tinha de especial esta mulher para gostar assim tanto dela…
A SOLIDÃO, rasgou o véu de silêncio e disse com sarcasmo:
_ O que se passa aqui? Porque nos fazes gaguejar loucamente com teus malditos mistérios?
Senti-me de novo prisioneira das minhas palavras! Pupilas das quais tanto aprendi…
_ Olhem para mim! (disse num tom frio e ameaçador) Não quero que fiquem tristes, (era assim que eu estava, mas tinha que ser FORTE). Tenho que partir… (consegui balbuciar) …
As LÁGRIMAS, assomavam-se á janela dos olhos…
A RESONSABILIDADE e o DEVER, permaneciam hirtos olhando um horizonte cinzento…
O bom SENSO e a CONFIANÇA abriram caminho no alfabeto aglomerando um texto risonho de frases cristalinas… acenando-me um ADEUS entre ASPAS…
_ Sem ti não somos nada! Volta depressa! Disse baixinho a ESPERANÇA, encolhendo-se nos braços do SILÊNCIO…
O PONTO FINAL tremia…
_ Descansa! Não te quero usar…
Agitava-se a PREOCUPAÇÃO num palpitar assustador…
A VONTADE DE VENCER gritou-lhe entre linhas torcidas, para não se esquecer de VIVER, de como a VIDA é SIMPLES, e não deixar de ACREDITAR na BELEZA das coisas que não se vêem…
_ E sobretudo não te escondas de ti atrás de nós! Ouvira-se a OUSADIA…
Abri os olhos semicerrados de MEDO para não desprezar nenhuma das palavras que me rodeavam…tantas…e tão poucas…
_ Por favor, esperem por mim…ATÉ JÁ!
Não estava contudo preparada para admitir que iria ter SAUDADES das suas HUMILDES PALAVRAS.
Praguejou ao CONTRATEMPO esperado…
Agarrou na trouxa vazia, pendurou-a ao ombro e sem se virar abalou!


Ao inicio era sozinha, mas agora não! Olho em meu redor e alguém me olha! Alguém me segue! Alguém me fala! Alguém me lê, alguém me escuta! Alguém me ignora também… alguém me critica, alguém apoia e alguém se cala, passando por aqui apenas, sem deixar rasto.
A todos vocês devo algo, todos me ensinam, todos me mostram a saída e entregam as chaves das portas que teimosamente se fecham.
Vou estar ausente da blogosfera por algum tempo, e como acho que não devia simplesmente virar as costas sem dizer nada, sinto que informa-los do motivo da minha (espero que breve) ausência seria o mínimo que podia fazer…
Vou ser submetida a uma intervenção cirúrgica que requer (contra a minha vontade) alguma permanecia no hospital…
A todos vocês, obrigado e até já…

terça-feira, 8 de junho de 2010

(Im)Percetível...

(Imagem da internet)

Quanto mais transmito
Mais sou identificável
Então aferrolho os pensamentos
Deixo-me absorver pelo silêncio
Completamente devorada
Carcomida pela besta do ambíguo
Partícula comprimida
Lentamente…
Sou componente do que não se vê
E serei invisível…

Visivelmente oculta...

Átomo imperceptível
Encafuo-me no eco da minha sombra
Alcova desconfortável que me faz de berço
Balanço ao som do silêncio
No trilho gasto das palavras mudas
Que se arrastam nas periferias
Dessas alamedas do meu esquecimento
A amnésia é a fidedigna companheira
Dá a mão á minha silhueta
E serve-me bálsamos amargos
De momentos corrompidos
Em cálices de cristal esburacados
Que bebo ávida
Para me punir vagarosamente
E sucumbir devagar
Á sombra da madrugada...


Do meu insignificante queixume
Nem um ai se ouvirá
Esvoaçará o último respiro
Num cerrar de asas
Imperceptível...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

(In)Suportável...cegueira...


Intensidade insuportável
Esta luz negra que me cega
São relâmpagos de vontades
Que se apagam nos clarões da vida

terça-feira, 1 de junho de 2010

(Con) Sequências...

Sobreponho as letras...
Entrelaço as palavras...
Poesia?

Pontos e vírgulas...
E sangram promessas que procuram rimas...
Os dedos enleiam-se...
As mentes soltam-se...
Reticentes...
Os verbos tocam os teus ombros...
Lousa suave...
Onde em vão se esculpem poemas....

Divago á média luz...Da tua sombra...
Danço um tango por inventar...
Afasto-(nos)...
Perco-(te)...
Encontro-(me)...
Altas montanhas...nirvana...

Devem achar que sou louca...
E quem são vocês para me julgarem?

Assumo que a saudável loucura...
É o bálsamo embriagante que me mantém viva...
E na lucidez da minha insanidade...
Fervilham...
Dentro de mim… vontades...
Que lanço a um mar secreto...
Numa âncora em que me amarrei...

Afago o rosto de sereia...
Qual sereia?
Que rosto?
Se sou invisível...

Uma ilusão sem rosto...
Um corpo...Amorfo...
Uma miragem no deserto...
Onde quase me encanta ser odalisca...
Eu própria...
Poetisa?
Ou poema?
Sou resma de palavras...
Soltas...
E vontades agrilhoadas...

Amanhece...
O orvalho acorda-me dos sonhos...
As janelas entreabertas do céu...
Não me deixam vislumbrar a felicidade...
São fios de fantasia!

Esvoaço por entre a noite que me acolhe...
Adormeço no dia que não clareia...
Rasgo os momentos...
Desta cortina que não vejo...
Rodopio no vazio...
Abraço-me nas pétalas de chuva...
E enquanto a incerteza escorre...
Os pensamentos dançam...
No anfiteatro da mente em alvoroço...
A plateia vazia aplaude o meu silêncio...

Que ecoa...
Num labirinto...onde a solidão me guia...
As estrelas apagaram-se...
Com os raios de sol...finos...
Bordo um xaile de saudade...fria...